Economia lavradiense
As referências que se conhecem da economia do Lavradio prendem-se à atividade agrícola, nomeadamente a vinha (desde o sec. XIII, pelo menos, como vimos), os cereais (atestam-no os moinhos que aqui existiram) e o sal (beneficiando da sua óptima localização). É ainda de referir a navegação e travessia intensa no transporte de gente e mercadorias entre as duas margens do Tejo com carregamentos destinados às naus da Índia, e para o abastecimento diário à cidade «...e as [barcas] que andam ao sal e pedraria e alvenaria. E assim os mais batéis que de contínuo andam neste rio, ganhando dinheiro aos fretes para todas as partes que jazem ao longo deste Tejo. (...) Os dois Sarilhos, grande e pequeno, e Alhos Vedros, Lavradio, [têm em serviço] cem barcas e batéis.»
De facto, o Lavradio caracterizava-se até à primeira década do século XX por uma longa frente de praias fluviais entrecortadas por sapais e salgados (daí o natural desenvolvimento de viveiros e marinhas e, consequente produção de sal). Um importante cento salineiro, o Lavradio era rodeando desde a Barra-a-Barra até à Quinta dos Lóios, por inúmeras marinhas. Um dos primeiros registos que se reporta ao Lavradio,sobre a exploração do sal, data de 1324, quando o Mosteiro de Chelas em Lisboa, procedeu à arrematação de vários bens e heranças, entre as quais marinhas de sal – «… no logo que chama o Lavradiho os quaes beens e heranças sam casas e vinhas e lagar e Marinhas e campos e ressios e/ charnecas e matos e terras rotas e nom rotas com todos seus termhos novos e antigos com sas aguas e fontes…». Hoje, restam a memória e algumas fotografias… Há a registar a existência um moinho de maré no sec. XV, propriedade de Rui Galvão e reedificado pelo seu filho, Duarte Galvão (teria 4 rodízios). Em meados do sec. XX existiam 4, cujas ruínas desapareceram com a construção da UFA (hoje AP - Amoníaco de Portugal). Quase todas as marinhas do concelho situavam-se no Lavradio, havendo a registar que a última marinha a manter-se em funcionamento foi a Misericórdia, em 1971. As salinas da Rua 6 de Janeiro foram aterradas em 1973, dando origem à Pctª dos Lusíadas e à Avenida das Nacionalizações.
A agricultura era outra realidade no Lavradio. No seu interior, predominavam as grandes quintas, onde se praticava a cultura intensiva de cereais, produtos hortícolas e vinha. Também os Vinhos do Lavradio são hoje uma recordação. De toda a região, eram reconhecidamente os mais apreciados pela sua qualidade, desde o século XVI. Já Gil Vicente, no início do monólogo do Pranto de Maria Parda, se refere aos vinhos de Barra-a-Barra – «Ó travessa zinguizarra/De mata porcos escura/Como estás de má ventura/Sem ramos de Barra-a-Barra». De entre todos os vinhos aqui produzidos os que atingiram maior notoriedade foram os bastardinhos, dos quais diziam «espécie licorosa, fina e balsâmica, como não se produz melhor noutras partes.». A eles se deve a notoriedade que alguma vez o Lavradio teve, nomeadamente quando viu a excelência da sua qualidade reconhecida também no estrangeiro – Estados Unidos, Brasil e França. Ainda em 1867 a localidade era referenciada como centro vinícola de eleição, também pela qualidade dos seus tintos. Apesar deste reconhecimento, a produção era cada vez menor, obrigando mesmo à aquisição de uvas nas zonas de Palmela e Setúbal. Com a instalação das fábricas da CUF e a urbanização dos antigos terrenos de cultivo, todos os vinhedos foram destruídos. As últimas vinhas desapareceram ainda nos anos 60. Progresso, dizem…
Com a criação do Apeadeiro de Sul e Sueste em 1865, bem como das instalações da CUF, toda a região conheceu um grande crescimento. Em 1911 é criada a Sociedade Portuguesa de Cheditte, Lda, na Barra-a-Barra; pouco depois é a fábrica de cortiça Barreira & Cª, Irmãos… Em 1952 a UFA entra em produção; em 1955 é a Tinco; em 1961 já é necessário ampliar a UFA… Entretanto, chegam ao Lavradio a electricidade (1936), a água canalizada (1937), o saneamento básico (1949) e os transportes (1957). As grandes quintas são urbanizadas… fica(?) a Quinta da Várzea… Enquanto nos anos 40 o Lavradio tinha 270 fogos e 1244 habitantes, nos anos 60 passou a ter 2263 fogos e 6966 habitantes, e nos anos 70, 5286 fogos e 17470 habitantes. Foi a consequência direta do desenvolvimento da CUF e da instalação quer da EDP, quer da Fisipe. As antigas unidades industriais, essas, desapareciam… Atualmente, e segundo os censos de 2001, depois da “sangria” territorial decorrente da criação de novas freguesias no concelho, a população do Lavradio era de 6498 alojamentos e 12751 residentes. Hoje a realidade é outra; basta dizer que só eleitores, são aproximadamente 12 000.