Os Sapais - importância e funções
Os sapais definem-se por possuírem solos provenientes de sedimentos aluviais e estuarinos transportados pelas marés, que são colonizados por plantas vasculares, herbáceas ou arbustivas (vegetação halófita) e são regularmente inundados pelas águas de marés, de salinidade variável.
Os sapais são importantes na remediação natural do sistema estuarino, através da acumulação e retenção de nutrientes e metais pesados, contribuindo neste caso para diminuir a eutrofização do sistema estuarino e para a minimização dos efeitos tóxicos dos metais.
Os sapais constituem ainda reservatórios genéticos importantes, para além de serem habitat natural de várias espécies, nomeadamente de peixes e aves migradoras.
A biodiversidade é um fator importante e a contribuição das funções ecológicas dos sapais para a riqueza específica nas regiões costeiras tem sido bem demonstrada.
Até meados do séc.XX as áreas de sapal eram frequentemente drenadas, para obtenção de terrenos agrícolas e para instalar cidades e zonas industriais, sem preocupações de maior sobre a sua importância ecológica. Só a partir da década de 70 a sociedade começa a reconhecer o valor destes ecossistemas e a legislar no sentido da sua proteção.
BioRede - Sapais
Grupo Flamingo - Sapal
Ciência Viva - Aventura no Sapal
As Marés e os habitats por elas criados - NATURLINK
Sapal de Coina
O rio Coina - desagua no estuário do Tejo num esteiro com cerca de 6 km - foi desde sempre conhecido por ser um local eleito por aves e peixes para reprodução e berçário.
Com a instalação de indústrias poluentes nas suas margens, este ecossistema esteve ameaçado de extinção, contudo, o encerramento destas indústrias permitiu que muitas espécies que se julgavam desaparecidas para sempre voltassem a procurar o Sapal de Coina para se reproduzirem ou como pouso temporário para muitas aves migratórias, que aqui procuram alimento e abrigo. Destaque para os patos que encontrámos às centenas.
O rio de Coina foi um elemento natural importante no desenvolvimento da região, foi ainda associado à indústria naval, porque nas suas margens se construíram as embarcações da época da Expansão Portuguesa (caravelas e naus). As más condições de tempo no Inverno na Ribeira das Naus (em Lisboa), local onde se iniciava a construção, obrigava a que a conclusão das mesmas fosse feita no estaleiro da Feitoria da Telha. Era também nas areias das margens do rio Coina que se enterravam as madeiras – a zona era muito arborizada na época – destinadas à construção naval. Nessa época o Rio Coina ainda era navegável, consta até que todos os dias saíam de Coina vários barcos carregados de hortaliças e frutas, como a uva Moscatel, com destino ao mercado de Lisboa. O rio era por vezes utilizado pela Rainha D. Constança, esposa de D. Pedro I, para viajar de barco para a sua residência em Azeitão.
Ver vista de rua.
O Sapal de Corroios funciona também como uma “maternidade” e “creche” para diversas espécies de moluscos, crustáceos e peixes.
O Sapal é formado por uma diversidade de canais anastomosados, de grande hidrodinamismo de marés, que alternam com pequenas elevações de substracto. Este biótopo encontra-se sobre a acção de diversos fatores ambientais naturais, como os rápidos fluxos tidais, a constante erosão do substracto lodoso, que contem uma pequena granulometria, que fazem deste um habitat singular e selectivo.
São característicos destas áreas de sapais, salgados e caniçais, o
Alfaiate (Recurvirosta avosetta), o Pilrito Comum (Calidris alpina), o Perna Vermelha Comum (Tringa totanus), o Maçarico de Bico Direito (Limosa Limosa), o Borrelho Grande de Coleira (Charadrius Hiaticula), a Tarambola Cinzenta (Pluvialis Squatarola) e os patos, como a Piadeira (Anas penelope), o Marrequinho Comum (A. crecca), o Pato Real (A. Platyrhynchos), o Pato Colhereiro (A.Clypeata), o Zarro Comum (Aythya Ferina), etc. Com certa frequência ocorrem ainda o Ganso Comum (Anser Anser) e o Flamingo (Phoenicopterus Ruber).
A pesca chegou a ser uma atividade significativa no concelho do Barreiro, contribuindo para o abastecimento diário de Lisboa. No entanto, foram as ostras e as lambujinhas, lamejinhas ou lamujinha que ganharam celebridade.
Foram elementos característicos da paisagem do Lavradio até há bem pouco tempo as salinas , as pastagens naturais e as vinhas das quais se notabilizou o vinho Bastardinho.
A industrialização da freguesia impediu a fruição do rio às gerações mais novas de Lavradienses. A poluição e a intensa pressão urbana destruíram os bancos de ostras, aterraram os sapais e as salinas, afastando e empobrecendo a fauna e a flora desta zona do estuário.
O projeto ecológico e ambiental das Salinas do Samouco - NATURLINK (PDF)
A produção de Sal - Naturlink (PDF)
Mata da Machada
É constituída pelo antigo Pinhal de Vale de Zebro e pela Quinta da Machada.
A Quinta da Machada pertencia ao “Convento de Nossa Senhora da Luz da Ordem de Cristo”, porém quando foram extintas as Ordens Religiosas em 1834 foi adquirida por um particular, sendo mais tarde aforada ao Estado que a anexou ao Pinhal de Vale de Zebro.
Encontra-se situada no centro da Península de Setúbal, entre as povoações de Coina, Palhais e Santo António da Charneca. Sujeita a Regime Florestal esta Mata encontra-se hoje, sob a gestão da Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste e ocupa uma área com cerca de 385,7 hectares.
Vídeo (adaptado)
Parque Natural da Arrábida
Esta classificação visa proteger os valores geológicos, florísticos, faunísticos e paisagísticos locais, bem como testemunhos materiais de ordem cultural e histórica do maciço Arrábico, bem como da área marinha Arrábida-Espichel. Na zona do cabo Espichel a proteção visa as arribas marinhas, espécies vegetais endémicas, a nidificação de aves e a preservação de icnofósseis.
O Parque Natural da Arrábida localiza-se na parte mais meridional da Península de Setúbal, sobre um maciço calcário de baixa altitude que se estende paralelamente à costa numa orientação SW-NE. A quase totalidade da área do Parque é propriedade privada: (95%).
A superfície do Parque Natural é maioritariamente revestida por um manto vegetal de feição mediterrânica, rasgado por cristas rochosas de natureza calcária, cinzentas a norte e esbranquiçadas a sul. A linha de costa compõe-se de falésias sobre o Atlântico e recolhidas praias de areias finas. Pastagens e terrenos cultivados, aglomerados urbanos e obras monumentais testemunham a presença humana.
Criado em 1976, pelo Decreto-Lei Nº622/76 de 28 de Julho.
Geomorfologia
O Parque Natural da Arrábida deve o seu nome à principal unidade geomorfológica de toda a área, a designada cordilheira da Arrábida, constituída por 3 eixos:
- composto por pequenas elevações nos arredores de Sesimbra, pelas serras do Risco e da Arrábida e pelas colinas existentes entre o Outão e Setúbal;
- é formado pelas Serras de S. Luís e dos Gaiteiros ;
- e formado pelas Serras do Louro e de São Francisco.
A Cordilheira da Arrábida, desenvolveu-se através de processos geológicos entre o Mesozóico e o Cenozóico, tem orientação alpina (ENE-OSO), com cerca de 35Km de comprimento e uma largura média de 6Km. A sua altitude máxima, verifica-se no anticlinal do Formosinho , com 501 metros.
A grande maioria dos solos é de origem sedimentar aparecendo, no entanto, algumas intrusões eruptivas. O litoral é bastante rochoso, recortado por pequenas baías com praias de areia branca e geralmente encimadas por escarpas que apresentam alturas consideráveis .
A Arrábida apresenta centenas de cavidades cársicas, das quais se destaca a Gruta do Frade pela sua raridade, singularidade, diversidade e beleza dos espeleotemas que apresenta.
Do ponto de vista paleontológico, na Arrábida existem diversas jazidas fósseis e pistas de dinossáurios mundialmente relevantes do ponto de vista científico (designadamente no que diz respeito à evidenciação do comportamento gregário de saurópedes), com a particularidade única de estarem associadas ao património cultural material e imaterial do cabo Espichel (Praia do Cavalo, Lagosteiros).
![]() |
![]() |
Hidrografia
Os principais cursos de água no Parque Natural da Arrábida localizam-se na sua maioria na parte este, entre Setúbal, Palmela e o vale dos Picheleiros
A ribeira da Ajuda é o curso de água de maior caudal da cadeia arrábica, resulta da junção das Ribeiras de Alcube e do Picheleiro e ainda tem a contribuição das Ribeiras do Almelão e Pomarinho. A sua bacia hidrográfica abrange os Vales de Picheleiro, Alcube e Ajuda, as encostas a W e S da serra de S. Luís e as encostas a W do Nico e Viso.
Temos ainda a ribeira de Melra, do Vale de Cavalo e de Mareta. Outros cursos de água, como sejam a ribeira da Corva, afluente da ribeira de Livramento, ou a ribeira do Calhariz, afluente do rio Coina, alcançam os seus maiores caudais exteriormente ao Parque.
De todas as linhas de água referidas, interior da área do Parque, apenas a ribeira da Ajuda conserva corrente durante alguns meses, ou mesmo durante quase todo o ano. Em grande parte da Península de Setúbal, em que o Parque se insere, a infiltração profunda excede largamente o escoamento superficial.
Clima
A Arrábida apresenta acentuadas características mediterrânicas, traduzindo-se em duas estações extremas:
- verão quente e seco chegando a atingir temperaturas com valores aproximados às temperaturas das regiões tropicais, com períodos de seca prolongados que se podem estender por vários meses;
- inverno frio geralmente húmido. Estas são intercaladas com duas estações intermédias, o outono e a primavera.
Na Arrábida é importante referir os microclimas, próprios das vertentes norte e sul da área montanhosa. A encosta a norte, mais exposta aos ventos húmidos do noroeste, é mais húmida e fresca que a vertente meridional, abrigada dos fortes ventos frios e exposta a uma forte insolação, o que lhe dá mais secura no período estival, temperatura elevada, assim como invernos temperados.
A proximidade do mar, no caso o oceano Atlântico, é um fator climático de relevante importância dando à região maiores humidades e consequentemente uma maior amenidade nas temperaturas ao longo do ano.
Flora
Para a atual flora e vegetação da Arrábida contribuiu a convergência de três elementos florísticos: o euro-atlântico, o mediterrânico e o macaronésico.
A vegetação da Arrábida constitui, assim, um exemplo raro de vegetação mediterrânica muito antiga, que, através dos tempos, foi sendo moldada pelo clima chegando aos nossos dias, através de condições ecológicas específicas, com um aspeto exuberante e surpreendente que a torna diferente de tudo o que a rodeia.
A conjugação das características climáticas, geográficas e orográficas, justificam a presença de comunidades vegetais únicas a nível mundial, ricas em história evolutiva, que resultam numa paisagem vegetal excecional de elevada singularidade.
Existem aqui espécies como o carrasco (Quercus coccifera) , o alecrim (Rosmarinus officinalis) , a aroeira (Pistacia lentiscus) , o lentisco-bastardo (Phillyrea angustifolia) , o aderno (Phillyrea latifolia) , o zambujeiro (Olea europaea sylvestris) , o espinheiro-preto (Rhamnus oleoides) , o trovisco (Daphne gnidium) , o carvalho-português (Quercus faginea) , o sobreiro (Quercus suber) e o pinheiro-manso (Pinus pinea) .
A Corriola do Espichel (Convolvulus fernandesii) e o Trovisco do Espichel (Euphorbia pedroi) , que se encontram nas falésias entre Sesimbra e o Cabo Espichel são os casos endémicos existentes na Serra da Arrábida.
Fauna
O Parque Natural da Arrábida é ainda um local de grande grande variedade no reino animal, onde se encontra registado um número considerável de espécies, num total de 213 de vertebrados: 8 espécies de anfíbios, 16 espécies de répteis, 154 espécies de aves e 35 espécies de mamíferos.
Entre os mamíferos destacam-se a raposa (Vulpes vulpes) , a doninha (Mustela nivalis) , o toirão (Mustela putorius) , o geneto (Genetta genetta) , o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) , o texugo (Meles meles) , o gato-bravo (Felis silvestris) , a fuinha (Martes foina) , o saca-rabos (Herpestes ichneumon) e a lebre (lepus capensis) .
As grutas, principalmente nas arribas têm associada uma fauna muito particular de morcegos: morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii) , morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale) , morcego-de-ferradura-grande (Rhinolophus ferrumequinum) e morcego-de-ferradura-mourisco (Rhinolophus meherlyi) .
Na avifauna, entre as rapinas diurnas existentes salientam-se a águia de Bonelli (Hieraetus fasciatus) , com o único casal a nidificar na costa portuguesa, a águia de asa redonda (Buteo buteo) , o peneireiro (Falco tinnunculus) e o falcão-peregrino (Falco peregrinus) . Das aves de rapina noturnas salientam-se o bufo real (Bubo bubo) e a coruja das torres (Tyto alba) .
O andorinhão real (Apus melba) , os abelharucos (Merops apiaster) , o melro-azul (ontícola solitarius) , o rabirruivo-preto (Phoenicurus ochrurus) , o rouxinol (Luscinia mergarhynchos) , o pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) , a carriça (Troglodytes troglodytes) , o bico-grossudo (Coccothraustes coccothraustes) , a poupa (Upupa epops) , a perdiz-comum (Alectoris rufa) , a cotovia-de-poupa (Galerida cristata) , o noitibó-de-nuca-vermelha (Caprimulgus ruficollis) , o guarda-rios (Alcedo atthis) , o pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major) , o chapim-real (Parus major) e o chapim-azul (Parus caeruleus) , a trepadeira-comum (Certhia brachydactila) e o cuco-canoro (Cuculus canorus) são, entre muitas outras, espécies que se podem observar nesta área protegida.
Cerca de 300 espécies identificadas de lepidópteros (borboletas) e 450 de coleópteros (besouros) , destacam-se entre os insetos.
Nos anfíbios e répteis, a lagartixa (Podarcis hispânica) , a cobra-de-pernas-pentadáctila (Chalcides bedriagai) , a cobra-de-escada (Elaphe scalaris) , a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus) , a víbora-cornuda (Vipera latastei) e a cobra-de-ferradura (Coluber hippocrepis) .
Os recursos aquáticos proporcionam abrigo ao cágado (Mauremys leprosa) e a cobras-de-água (Natrix maura) .
De entre as milhares de espécies de invertebrados destacam-se a aranha cavernícola do Frade (Anapistula ataecina) , o gorgulho esmeralda – rosado (Cneorhinus serranoi) e um caracol (Candidula setubalensis) , sendo que as duas últimas são Espécies Endémicas da Serra da Arrábida.
Localizado ao longo da costa sul da Península de Setúbal, entre a serra da Arrábida e o cabo Espichel, foi criado, em 1998, um Parque Marinho com uma área de 52 km2. Recebeu a designação de "Parque Marinho Professor Luiz Saldanha" em homenagem a este biólogo que dedicou parte da sua carreira científica ao estudo daquelas costas.
O Parque Marinho inclui o segmento de costa rochosa entre as praias da Figueirinha e da Foz. É uma porção da costa portuguesa com características particulares, nomeadamente com fundo rochoso, de natureza muito específica já que resulta, essencialmente, da fragmentação da própria arriba, destacando-se grandemente de toda a envolvente, já que a costa portuguesa, para norte do cabo de Sines, é maioritariamente arenosa. Contribuem particularmente para as suas características mais notáveis, a presença de:
- em terra, um sistema de serras e terras altas que conferem à faixa marinha uma proteção muito significativa dos ventos do quadrante norte, dominantes em Portugal continental;
- a este o estuário do rio Sado;
- e no oceano, uma configuração dos fundos com grandes canhões abissais, o canhão de Setúbal a sul e o de Lisboa a oeste.
A proteção dos ventos dominantes é responsável pela reduzida ondulação predominante nesta costa, o que favorece o desenvolvimento de muitas espécies e a sua reprodução, bem como de juvenis. Este caráter único de modo calmo pode ainda ser responsável pela existência, na Arrábida, de espécies raras em Portugal, devido à agitação característica da restante costa.
É uma área com elevadíssima diversidade vegetal e animal estando registadas mais de 1400 espécies (peixes, moluscos, crustáceos, algas, esponjas, cnidários, equinodermes, mamíferos, aves). Trata-se de uma zona com elevada produção primária e que é utilizada como local de refúgio e crescimento de juvenis de muitas espécies, nomeadamente de peixes, ou seja, para além da riqueza de flora e fauna residente, a área é ainda importante na renovação de recursos que a utilizam nas fases críticas dos seus ciclos de vida, tendo um papel de nursery, muitas vezes só atribuído aos estuários.
![]() |
![]() |
Consultar
Guia da Flora da Mata da Machada
O Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal